"GIGANTE" conta a "saga" de um pequeno vilarejo onde estranhos fatos acontecem: um pintor confuso não sabe mais onde estão as suas tintas, e acaba por deixar sua tela sem cores; o músico não sabe a nota seguinte de sua canção, os semáforos não representam mais regra alguma ao caótico trânsito de carros desgovernados e sem destino. Até mesmo os animais andam bastante confusos. Os moradores da vila, no entanto, nada percebem. Nada estranham. Nada sentem. Porque já não podem mais sentir. É uma gente esquecida da vida e das coisas da vida. É uma gente a viver sem saber exatamente porque e para que...
Ali perto vive o grande e solitário gigante, a quem ninguém vê. Astuto, ele se esconde durante o dia, e invade a noite do lugar. É então que deposita, em sua enorme sacola, os sonhos que rouba da gente da pequena aldeia. Tudo para... ALIMENTAR-SE! Sim, o gigante de nossa história literalmente alimenta-se dos sonhos que rouba daquela pobre gente que, sem os seus sonhos, perde os anseios, os desejos, as memórias, a música e a poesia que lhes faria mover a vida.
Uma esperta garotinha, no entanto, parece sentir que algo não vai bem com suas noites de sono. Percebe que seus sonhos são estranhamente cortados ao meio. E por um incrível sexto sentido, percebe a presença do gigante a lhe roubar os sonhos. É então que, astuta, criará sonhos falsos, feitos de fumaça e ilusão, que o gigante não pode pegar. É assim que, consciente, ela se depara com o enorme ser, que lhe revela sua triste sina - não há nada, além de sonhos, que ele possa comer.
A garota, então, encontrará uma maneira simples de resolver os terríveis problemas. A notícia se espalha. É possível, agora, que cada gigante produza o seu próprio alimento. É possível, agora, permitir ao outro uma existência plena. É possível respeitarmos, cada um, a identidade do nosso semelhante. É possível, agora, sonhar, e assim encher os nossos pratos e as nossas almas... e repartir o pão.
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“GIGANTE” trata de aliar, a uma estética refinada de manipulação de bonecos, que adquirem em palco movimentos de plasticidade cênica e profundidade dramática surpreendentes, uma dramaturgia consistente, que fala às crianças sobre temas profundos, de significados vitais para o seu crescimento saudável, para o enriquecimento do gosto pela arte, da sensibilidade e do senso crítico.
Aqui falamos sobre o resgate da individualidade, a identidade que nos faz seres únicos e, consequentemente, a importância deste “ingrediente” da vida humana. Vivemos em um mundo massificado, mecanizado, competitivo e, de certa forma, cruel. De pouco valem os sonhos, os anseios particulares, os desejos, as ideias. Mais valem os poderes de todos os tipos, envoltos em seus vasilhames de dominação econômica, social e cultural... Pouco resta ao SER... a não ser seguir regras rígidas de comportamentos que nos são sutilmente ditados. Em “GIGANTE” falamos sobre tudo isso. De forma simbólica, como se estivéssemos tratando de uma fábula. Um gigante está comendo, literalmente falando, os sonhos de todo um povo. Pois é de sonhos que ele se alimenta. Mas então o que restará de um povo sem sonhos? Um povo sem identidade. Um povo que já não pode mais lembrar de seus anseios, de suas coisas. Um povo esquecido... Falamos então de como é estarmos privados do nosso direito de sonhar, quase que alijados do direito de existir. Falamos da importância dos sonhos e dos desejos. E é na figura de uma pequena garota, que ensinará ao gigante uma nova forma de se alimentar, sem que precise destruir o que é do outro, que estará uma grande lição aos nossos dias: uma convivência humana que respeita o outro. Que respeita o direito à identidade de cada um. Que assim pode construir um mundo pacífico e mais justo em todos os aspectos.
Em nossa história materializamos as coisas todas sobre as quais aqui falamos. Damos “nomes aos bois”. A engrenagem do mundo é simbolizada por um rude gigante que sequer tem conhecimento dos males que provoca. Os sonhos são literalmente devorados em banquetes. Notas musicais, palavras dos poemas, imagens são servidos à mesa do comilão. Sobra apenas um mundo cinzento, sem canções, sem palavras. Um mundo de gente esquecida de si mesma...
É assim, materializando conceitos, e tornando-os palpáveis, que falamos às crianças. Que nos aproximamos de seu universo lúdico. Que podemos exercer nosso ofício de artistas sonhadores que anseiam chegar até seu público, e com ele dividir suas inquietudes, mas também o sonho e o pão da vida...
O QUE A IMPRENSA COMENTOU
“...Um espetáculo lírico e comovente abriu a 8ª. Edição do Festival Internacional de Belo Horizonte... Mais do que composta por excelentes manipuladores, a Cia. Truks é formada por atores que se desenvolvem com habilidade, e confirma o argumento de que o teatro de títeres também depende da boa preparação técnica e artística dos grupos... Neste espetáculo eles brincam com a imaginação das crianças, conciliando humor e poesia... O resultado é a participação ativa do público, que se emociona com o desfecho.”
JANAINA CUNHA MELO – O ESTADO DE MINAS – 05/06/2007
"...Em 2006, o ano foi bom para grupos que sempre acreditaram em criança e souberam investir para colher bons frutos... Encaixaram-se bem nessa vertente da continuidade vários grupos. A Truks veio com Gigante, dando um passo à frente: além de dominar técnicas de animação, se sai bem na linha dos manipuladores - atores..."
DIB CARNEIRO NETO - O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/12/2006
"... O narrador desfia uma história cheia de sentimentos e sonhos. No palco, bonecos contracenam com gigantes, narrador interage com atores-manipuladores que, por sua vez, falam à platéia, num divertido jogo teatral... A luz clareia os bonecos com gestual delicado, que destaca também a boa interpretação dos manipuladores. E, se o texto abstrai na temática de abordar a busca da identidade, a encenação do grupo prima pelas brincadeiras..."
GABRIELA ROMEU - FOLHA DE SÃO PAULO - 24/11/2006
"... Referência no teatro de animação, a Cia. Truks vai além das suas conhecidas habilidades, na nova peça "Gigante". O grupo utiliza seus bonecos tradicionais, recursos da luz negra e se arrisca no palco sem os bonecos, atrás de máscaras..."
MARCELO VENTURA - REVISTA VEJA SP - 08/11/2006
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