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De que são feitas as estórias?


Para escrever um romance é preciso mais que uma boa estória. O primeiro passo é saber como estruturar as cenas que apresentarão a trama. Ou seja, se você quer ser um autor profissional deve, no mínimo, saber quais são os elementos que compõem uma cena, e como ordená-los. 


Uma estória é sempre sobre um personagem excepcional, enfrentando obstáculos excepcionais, rumo a um fim excepcional.

Personagem-Obstáculo-Desfecho são os elementos essenciais da cena de ação.
Mas o que é uma cena?
Essa pode até parecer uma pergunta banal, porém é uma das mais importantes.  Cena é uma unidade dramática completa - com começo, meio e fim - que retrata um momento específico da vida do personagem e tem a função de levar a trama adiante. Durante o tempo em que ela transcorre, o leitor deve ser capaz de identificar quem é o protagonista, o que ele quer, quando e em que lugar o episódio está acontecendo, por que o personagem se meteu naquela encrenca e como vai se livrar dela. Isso nos leva a uma regrinha das mais importantes:


Trocou de tempo ou de lugar trocou de cena.


Por quê?
A cena, por ser uma unidade completa e fechada, requer que o leitor não se desligue do personagem durante todo o evento.  Então, quando o personagem muda de lugar geramos uma ruptura no encadeamento lógico dos fatos, ou seja, a menos que o autor preencha todas as lacunas da cena de ação – isso mesmo, mostre tim tim por tim tim cada movimento dos personagens - a quebra de cena será inevitável. Não quer mudar de cena? Simples, continue com mostrando a ação externa até o exato momento da quebra e só então comece uma nova cena. Preencher as lacunas lógicas da cena de ação cria uma ilusão de realidade na mente do leitor e o transporta para dentro da estória. 


Uma mudança de tempo ou lugar funciona como uma quebra na fluência da estória. Não existe uma regra que diga se é bom ou ruim mudar mais ou menos vezes de cena, mas o autor deve ter consciência destas quebras.


Veja só estes exemplos de alteração de tempo:

“Em pouco tempo, abandono esta ilha de sonho e a mulher mais apaixonante que conheci. Para trás acabam de ficar os olhos mais verdes do mundo.
Súbito, acordo no presente. Continuamos na casa de Shina. Sentado no cômodo sofá, a última cena que me lembro era a de Enuros regressando à Península Ibérica, seguindo a majestosa figura de Cariel, à frente, montado em seu poderoso unicórnio alado”.
A Cidade Perdida – Pedro Terrón (p. 193, grifei)

“Fascinada, fechou a carta e guardou na bolsa para postar no dia seguinte. Quando pegou o celular, viu seis ligações perdidas do Luca. Mas não retornou.
No dia seguinte, acordou animada. Deu uma volta no quarteirão, desviando dos buracos que delimitavam o caminho a ser seguido pela calçada”.
Ainda não te disse Nada – Maurício Gomyde  (p. 106, grifei)

“Os ansiosos semblantes são tomados de ânimo. Por sorte, a onda expansiva não foi tão destruidora. Simplesmente, o cientista sofreu um forte abalo que lhe fez perder os sentidos. Bem rapidamente já vai recuperando sua normalidade.
Doze minutos e cinquenta e sete segundos mais tarde, termina o fenômeno. Neste instante é quando se alcança a maior concentração de energia”.
A Cidade Perdida – Pedro Terrón (p. 224, grifei)



Agora observe a alternância de lugar.

“Com passos pesados e o coração mais pesado ainda, começou a caminhar de volta para o jipe.
Mal havia caminhado uns 15 metros pela trilha quando sentiu um jorro súbito de ar quente alcançá-lo por trás”. 
A Cabana – William P. Young (p. 71, grifei)

“- Garanto que não é nada fácil – Miros Tolsen me diz, dando a entender que lhe custou muito consegui-lo.
- Até breve – respondo, fechando os olhos.
Volto a acordar no mundo dos sonhos. Sigo as instruções de Sirion ao pé da letra (...)”.
A Cidade Perdida – Pedro Terrón (p. 271, grifei)


“- Eu sabia que tinha feito com que você me odiasse. Não tinha nada a perder.
Clary apoiou os tênis verdes sobre o painel do carro. Através do para-brisa, por cima da ponta dos dedos dos pés, a lua subia por cima da ponte.
- Bem – ela disse. – Agora você tem.
O hospital na ala sul da Roosevelt Island estava iluminado à noite, com os contornos fantasmagóricos curiosamente visíveis contra a escuridão do rio e a majestosa iluminação de Manhattan (...)”.
Cidade dos Ossos – Cassandra Clare (p. 396, grifei)

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