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Palavra após palavra



  Em buscado guardião da luz foi meu primeiro romance infanto-juvenil. Não surgiu de uma vontade intrínseca de ser escritora ou ter um livro publicado, mas da necessidade de contar aquela estória.

Na época, por volta de 2008, eu me dedicava integralmente ao teatro de bonecos e a cia.Truks. Por ser uma companhia de repertório, tínhamos cinco espetáculos com os quais trabalhávamos nos apresentando por todo o Brasil. Entre eles o "Gigante", um espetáculo que estreamos em 2007 e cujos protagonistas eram o “citado” Gigante e Clara, uma garotinha de 8 anos muito corajosa.

A boneca Clara foi minha paixão desde o início, ainda hoje morro de saudades dessa menininha que só vejo de vez em quando, afinal, a vida levou-me a literatura e essa boneca de 70 cm de altura é uma das culpadas. O amor por essa personagem levou-me a imaginar diversas aventuras com minha protagonista e entre elas encontrei uma que tomou minha mente por completo: Clara se descobriria em meio a uma sociedade secreta e embarcaria numa aventura repleta de fantasia.



Comecei a escrever a estória como uma peça infantil. Nada mais natural, eu era apenas atriz e vez ou outra, por pura necessidade - o que não quer dizer que eu não gostasse -, escrevia também textos para teatro, roteiros para espetáculos de rua e até já havia feito adaptação de peças para escolas de atores que precisavam ter, entre outros elementos, textos com um grande número de personagens e de igual importância.



Entretanto a estória foi crescendo e quando apresentei ao meu diretor, o querido, amado e amigo de verdade Henrique Sitchin, me lembro bem das suas palavras: “isso é uma super montagem, um espetáculo grandioso que requer altos recursos financeiros devido a fantasia e aos fenômenos extraordinários. Tudo isso inviabiliza uma montagem.” Pois é, gente, viver de teatro no Brasil é assim mesmo, a gente trabalha com investimento e produção próprios e ás vezes uma produção muito cara se torna inviável e não sai do papel.

Essa estória de “não dá” nunca foi algo com a qual eu compactuei. Decidi, então, fazer um livro infantil. Ora bolas, se não temos dinheiro para um filme, pensamos em uma peça, se não temos para uma peça, escrevemos um livro. Qualquer estória pode ser contada em diversas plataformas, ou seja, em diferentes meios, e para tanto precisamos adaptá-la ao contexto em que a estória será “contada”.

A escolha do meio de comunicação entre ao autor e seu público é uma das primeiras e mais importantes escolhas do autor. Cada meio de comunicação exige um procedimento diverso de escrita e foi quando me descobri fazendo “um livro”, objeto tão importante e amado, foi que percebi as diferenças entre escrever uma peça e um livro. A escolha do objeto de encontro do escritor e seu público orienta a criação, mas não quer dizer que não possam ter mudanças no caminho; comecei com uma peça infantil para teatro de bonecos e terminei com um romance infanto-juvenil.

Erro ou acerto? Só o tempo dirá. Segui um trajeto e estradas me levaram aonde eu não imaginava, e isso não quer dizer, nem de longe, que não fosse um bom lugar para se chegar. Em busca do Guardião da Luz mais do que um meio de comunicação se tornou, para mim, primeiro um meio de transporte mental entre a dramaturgia e a literatura e depois um meio de transporte físico que me levou  de atriz a escritora e, então, a consultora literária [Book-in-a-Box / Storytelling]. Isso me ensinou que toda estória tem seu caminho, suas estradas, desvios e problemas: as vezes é impossível contar uma estória por um meio que ela condene. Portanto faça mapas, planeje sua excursão pela estória, mas lembre-se que o verdadeiro roteiro é escrito palavra após palavra.


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