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Professor inglês vem ao Brasil para 'ensinar' autores iniciantes a escrever romances














Um dos grandes autores britânicos do século 20, Somerset Maugham revelou certa vez o supra-sumo de seus segredos literários, para os aspirantes a escritores que lhe pediam conselhos.
"Existem três regras para escrever um romance. Infelizmente ninguém sabe quais elas são", disse o autor.
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Nem todos concordam com o autor de "Servidão Humana" e "O Fio da Navalha". O seu conterrâneo Richard Skinner, por exemplo.
Autor de três romances, já traduzidos em sete idiomas (não em português), o inglês de 51 anos tem uma porção de ideias para quem pretende se tornar um escritor. E, daqui a pouco mais de duas semanas, virá compartilhá-las, pela primeira vez, com o público paulistano.
Diretor da Faber Academy, escola criada pela prestigiada editora britânica Faber and Faber, em Londres, Skinner é um dos convidados do Pauliceia Literária, festival que acontecerá de 19 a 22 de setembro na Associação dos Advogados de São Paulo.
Além de debater com o escritor e cineasta francês Philipe Claudel, 51, sobre "Literatura e Cinema", o britânico coordenará, no dia 21, uma oficina literária chamada "Da Ideia à Criação do Romance". Serão três horas de atividades, em inglês.
E o que é possível ensinar nesse tempo a um aspirante a escritor?, a Folha perguntou a Skinner, por e-mail.
"Bons romances não são escritos com a cabeça ou com o coração, mas sim com o estômago. Meu objetivo para este workshop é tentar mostrar que um romance será muito melhor se o autor seguir seus instintos viscerais."
Há quem torça o nariz para dicas do gênero. Um dos principais escritores vivos, o norte-americano Philip Roth, 80, é um deles.
O romancista chegou a dar aulas de "creative writing" no curso mais tradicional do ramo nos Estados Unidos, o da Universidade de Iowa, nos anos 1960, mas depois declarou achar isso uma "grande perda de tempo". Autores de outras gerações e latitudes também fazem ponderações.
"Já dei oficinas de escrita. Minha primeira frase foi: 'Não acredito que ninguém seja capaz de ensinar outra pessoa a escrever'", conta o escritor João Paulo Cuenca, 35. "Sou absolutamente contrário a essa onda de pasteurização que vejo em alguns cursos."
"Discordo completamente da ideia de 'pasteurização'", rebate Skinner. "Cursos de escrita criativa não devem servir para dizer o que os estudantes devem pensar ou escrever, mas para ajudá-los a desenvolver suas próprias fontes de criação."
O principal professor de escrita criativa no país, Luiz Antonio de Assis Brasil, 58, está com o inglês. Escritor e atual secretário de Cultura do Rio Grande do Sul, ele dá aulas do gênero desde 1985, na PUC-RS, onde foi criado o primeiro mestrado do ramo.
"É só ver meus ex-alunos. A ficção de Daniel Galera é muito diferente da ficção da Letícia Wierzchowski, que é muito diferente da do Michel Laub, que é muito diferente da de Cintia Moscovich..." Assis Brasil defende que há apenas um traço em comum entre sua longa lista de ex-alunos (que, gaba-se, "inclui cinco dos 20 eleitos pela revista 'Granta' como melhores autores jovens brasileiros").
"Há uma unidade de narrador. Todos, sem exceção, escrevem em primeira pessoa. Mas isso é uma questão da nossa época, não de nenhum curso."
Em seu livro teórico "Fiction Writing" (Hale Books, Inglaterra), do qual foram pinçadas as dicas ao lado, Skinner diz que não é propriamente a escolha da "voz" literária o maior problema dos escritores iniciantes. O professor sustenta, por sinal, que "encontrar a própria voz" é um dos grandes mitos literários. A grande inimiga é a pressa.
"Quando um autor novo tem uma ideia, ele começa a escrever de modo afoito e perde o gás depois de 50 páginas. Uma das partes mais difíceis do processo de escrever é o de sustentar e desenvolver a história", diz à Folha.
Sem saber, um dos grandes escritores brasileiros em atividade, João Ubaldo Ribeiro, 72, já chegou a usar uma "técnica" também sugerida por Skinner. "Nunca cursei nada semelhante, mas o que fiz foi ler muito e até copiar trechos de livros, obrigado por meu pai, quando menino. Como tudo mais, acho que a escrita se aperfeiçoa com o 'treino', mas não acredito que se aprenda a ser um ficcionista dessa forma", diz Ubaldo. "Assim como um músico ou pintor, tem que haver talento." Nisso, Ubaldo, Skinner e companhia concordam.

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