Quatro jovens autores que tiveram êxito no livro
de estreia falam sobre a expectativa com o lançamento de nova obra
Quando
lançou o primeiro romance, em 2008, o carioca Flávio Izhaki ganhou o aposto de
“promessa literária”. Bem recebido por público e crítica, o livro “De cabeça
baixa”, curiosamente, contava a história de um escritor que teve seu primeiro
livro chafurdado em críticas negativas. Desde então, Flávio participou de
quatro coletâneas de contos e foi escolhido para integrar a antologia de
literatura brasileira contemporânea da editora alemã Lettrétage, a ser lançada
na Feira de Frankfurt, no mês que vem.
O
que só faz aumentar a expectativa pelo seu segundo romance, “Amanhã não tem
ninguém” (Rocco), que acaba de chegar às livrarias e costura seis tramas sobre
finitude. Flávio, aos 34 anos, passa pela indefectível “síndrome do segundo
livro”, que assola escritores (e cineastas, músicos) que tiveram êxito no
primeiro trabalho. Ele não está sozinho: outros três jovens autores passam pela
mesma apreensão. A carioca Ieda Magri, exaltada pela obra “Tinha um lugar
aqui”, de 2007, vai lançar seu segundo romance, “Olhos de bicho” (Rocco), no
próximo dia 24. A paulistana Andréa Del Fuego, que ganhou o Prêmio José
Saramago com o livro “Os malaquias”, em 2010, acaba de lançar “As miniaturas”
(ambos pela Companhia das Letras). E o goiano Wesley Peres, ganhador do Prêmio
Sesc de Melhor Romance em 2006 com “Casa entre vértebras”, lançou, há apenas
três meses, “As pequenas mortes” (Rocco).
—
O primeiro livro é lido, analisado dentro de uma ótica de proteção. No segundo,
a rede de proteção é retirada. Você não é mais o estreante. Seu livro é um
livro na multidão e deve ser capaz de permanecer em pé quando analisado com os
mesmos parâmetros de autores já consagrados. É uma pressão? Sim, mas não pode
ser um fator quando o autor está escrevendo — compara Flávio, para quem o segundo
romance, naturalmente, tem uma “ambição maior”.
Ieda
não se preocupa com o fato de o próximo livro vir na sequência de um primeiro
bem aceito. O romance, lembra ela, às vezes é o segundo por acaso, como no seu
caso:
—
Escrevo sempre, emendo um projeto de livro no outro, mas isso não quer dizer
que o que eu escrevo tenha que virar um livro, às vezes pode ser somente
exercício, limpeza, busca, erro, treino, enquanto algo que me anime não se
forme — detalha a escritora catarinense de 36 anos. — Levei a sério a lição do
(escritor chileno Roberto) Bolaño, que diz que é melhor escrever vários livros
ao mesmo tempo, se um não der certo, você escreve o outro. Por enquanto me
interessa experimentar o mais que posso, encontrar o equilíbrio entre uma
linguagem casual, ágil, do cotidiano, e outra que tenha um pouco mais de
tensão. Assim, posso dizer que o segundo aprofunda a investigação do primeiro.
Quando
lançou o primeiro romance, “Casa entre vértebras”, em 2006, Wesley Peres
“tremeu nas bases”: ele tinha a rotina de um psiquiatra atribulado, que
escrevia nas horas vagas, e não sabia se o livro seria sequer percebido. Agora,
que já consegue dedicar quatro dias da semana à leitura e à escrita (nos
outros, atende seus pacientes), ele percebe que as indicações para prêmios
(além do Sesc de Melhor Romance, foi indicado ao Portugal Telecom e finalista
do Prêmio São Paulo) foram importantes para que ele continuasse a seguir a
proposta de ruptura da linguagem do primeiro em “As pequenas mortes”, que
aborda o delírio das pessoas que foram contaminadas pelo Césio-137 em 1987.
—
Funcionou como índice de abertura para a recepção, como “romance”, de um livro
que se serviu do rigor poético, palavra por palavra, linha por linha — acredita
Wesley. — No segundo, também tremi nas bases. Porque a obra é uma estrutura
aberta, e a recepção do livro não é controlada nem pelo autor nem pela
estrutura da obra. Nenhuma estrutura por si só garante se o livro será ou não
inscrito na inteligência e no coração dos leitores. Mas foi um tremor de uma
outra estirpe: já sabia, pela experiência com o primeiro, que havia lugar no
Brasil para romances que dialogam com a tradição de Beckett, de Virginia Woolf,
de Joyce, de Rosa, de Campos de Carvalho, de Raduan Nassar.
Lúcio
Cardoso e Raduan Nassar
Ele
volta a Raduan Nassar também para explicar por que não acredita que um escritor
seja construído à guisa do segundo ou terceiro romances:
—
Lúcio Cardoso teve de escrever bem mais de três livros até produzir aquele que
é um dos maiores que já se escreveu sobre a face da Terra, “Crônica da casa
assassinada”, mas Raduan Nassar já estreou com “Lavoura arcaica”, provavelmente
um livro ainda mais assombroso do que o do Lúcio Cardoso. Outra coisa que
acontece é que um livro vai sendo lido e relido e, de repente, o primeiro livro
de um autor pode se tornar o melhor, o mais importante da sua trajetória. É
difícil prever o movimento da recepção do livro no futuro, que pode ser
inclusive nenhuma, que pode ser ainda a de apequenar um livro tido por grande.
LEIA [+] no site fonte: O Globo
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