Camila Prietto
02/04/2016
Os contos de fadas sempre foram vistos como narrativas capazes de traduzir o imaginário, interpretar conflitos e auxiliar na formação de valores. Talvez até por isso fazem parte do universo cultural de nações e gerações. Desde as eras mais remotas, devido ao seu caráter pluri funcional, reforça a ideia de que a literatura infantil além de arte, emoção e prazer, é um poderoso instrumento para a expansão da capacidade de análise do mundo e de conflitos internos.
As personagens são outra característica marcante da estrutura dos contos de fadas, tendem a ser poucas e apresentar grande unidade. Atuam sempre de forma exagerada: ou são boas em excesso ou más em demasia; belas ou horrivelmente feias, valentes ou covardes, anãs ou gigantes, bruxas ou princesas. Muitas vezes são protagonizados por crianças, já outras são jovens em idade de se casar. O herói pode vir de uma cabana muito pobre ou de um fabuloso palácio encantado. Também é comum a presença de animais encantados.
O enredo básico dos contos de fadas é constituído por elementos ligados a essência do herói. Primeiro localizado na conquista de seu objetivo (casar-se com a princesa, morar em um castelo, vencer o dragão, etc.) e por consequência conectados aos obstáculos que precisam ser vencidos, obstáculo que coloquem o herói diante do alcance de sua auto-realização existencial.
Muitos estudiosos da Literatura comentam que os contos de fadas eram contados oralmente em torno às lareiras, nas cabanas dos camponeses, durante as longas noites de inverno até que um dia foram feitos os registros escritos e publicados. Dessa forma, pode-se considerar que Perrault seria apenas um coadjuvante, no sentido de recolher vários contos e fábulas populares da época e publicá-los oficialmente em seu nome.
Na opinião de alguns especialistas, Chapeuzinho Vermelho, na versão escrita por Perrault, enfatiza a oposição entre a linhagem feminina, estendida em três gerações: filha, mãe e avó, e a presença de uma personagem do sexo masculino, representada unicamente pelo lobo, que revela ameaça, terror e violência, intensificados pelo desfecho trágico do enredo: “E assim dizendo, o malvado lobo se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho e a comeu.”, dando ao conto um cunho moralista e realista. Diferentemente, os irmãos Grimm, durante o desfecho, inserem o caçador, personagem masculino, como o herói, deixando transparecer o entendimento de que nem todos os homens são maus e perigosos. Apesar das versões serem de Perrault e dos “Irmãos Grimm”, devemos levar em consideração que elas foram perpassadas das línguas francesa e alemã e certamente possuem essas influências em sua natureza.
Ao estabelecermos uma relação entre os elementos presentes nas duas versões de Chapeuzinho Vermelho citadas anteriormente, fica evidente que uma das versões passou por um processo de adaptação da obra “original”, que é o caso da versão dos irmãos alemães que a publicaram posteriormente. Colocando as duas versões lado a lado e observando a questão quanto ao contexto, é possível detectar certa semelhança no enredo durante as primeiras partes da narrativa, em que se apresentam as personagens e suas respectivas características:
- Chapeuzinho Vermelho, menina doce, gentil e símbolo da inocência;
- sua mãe, designando a sabedoria de vivência e esperteza'
- sua avó, uma velhinha doce e adoentada;
- o lobo, sinônimo de perigo.
No entanto, a diferença expressiva no desfecho de cada narrativa acaba por influenciar diversos aspectos, tais como, a ausência/presença de um personagem-herói, o que, consequentemente altera o tamanho de cada versão, a tenacidade e efeitos no leitor. Chapeuzinho Vermelho, versão escrita por Perrault, enfatiza a oposição entre a linhagem feminina, estendida em três gerações: filha, mãe e avó, e a presença de uma personagem do sexo masculino, representada unicamente pelo lobo, que revela ameaça, terror e violência, intensificados pelo desfecho trágico do enredo. Diferentemente, os irmãos Grimm, durante o desfecho, inserem o caçador, personagem masculino, como o herói, deixando transparecer o entendimento de que nem todos os homens são maus e perigosos.
Além disso, segundos os especialistas, nota-se que até mesmo os aspectos negativos presentes nessa versão são retratados de maneira suave, como por exemplo, o fato de o lobo não morrer, mesmo após sua barriga ter sido aberta e serem colocadas pedras dentro dela, prevalecendo uma temática onde o amor e a solidariedade se sobrepõem ao mal, e trazendo uma moral, sem precisar aterrorizar o público-alvo. Nessa versão Chapeuzinho Vermelho prometeu a si mesma nunca mais esquecer os conselhos da mamãe: “Não pare para conversar com ninguém, e vá em frente pelo seu caminho”.
Ao considerarmos elementos contextuais, inclusive a época em que as obras foram escritas, os valores defendidos, e o público a quem se dirigia, fica esclarecido que há uma distinção significativa com relação ao desfecho de cada obra. Chapeuzinho Vermelho foi publicado inicialmente por Charles Perrault, no final do século XVII, para a corte do rei Louis XIV, e certamente pretendia levar uma moral às moças, especialmente, as bonitas, finas e educadas, para que não fossem enganadas em ouvir estranhos, mesmo os que fingem ser gentis, representados pelo lobo.
Alguns pesquisadores do tema acreditam que a maneira violenta como Perrault escreve o conto deve-se ao público alvo. No século XVII não se tinha a preocupação de se distinguir socialmente uma criança de um adulto, eles compartilhavam o mesmo tipo de roupa, trabalho e até os mesmos ambientes sociais. Já na época em que os irmãos Grimm fazem a adaptação de Chapeuzinho Vermelho, acontecimentos como a diminuição da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida contribuíram para uma nova percepção da infância. Eram tempos de contos que serviam como um instrumento educativo e disciplinador. Os irmãos Grimm escreverem sua obra em tempos em que se reconhecia a sensibilidade de uma criança, ativando a preocupação de não traumatizar o leitor infantil.
Para complementar nosso aprendizado, segue uma ficha de exercício dando continuidade a semana passada. Baixe a Ficha de Criação_02_Era uma vez... e comece agora mesmo a experienciar o que é contar uma história em forma de conto de fadas.
Todos os comentários passam por moderação prévia antes da publicação. Textos ofensivos ou com links externos não serão publicados. Mensagens de ódio ou preconceituosas também não serão aceitas. As opiniões aqui expressas não representam as dos autores deste blog.
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