Personagem: Soar, sentir, falar...

Conte-me um fato e eu aprenderei. Conte-me uma verdade e eu acreditarei.
Conte-me uma estória e ela viverá para sempre em meu coração.

Personagem.

Persona. Per sonare. “Soar através de”. No teatro grego, prósopon era a máscara usada por atores, por meio da qual expunham à audiência as suas emoções. Através da persona, ou seja, do personagem, o público estrava em contato com a estória. Isso já pode fazer você supor qual é o elemento principal e essencial de uma estória: o personagem.

Mas atenção!

A estória é apenas o que acontece com o personagem. Uma estória, para ser interessante, deve se preocupar com de que forma o que acontece com o personagem afeta o leitor. Do contrário, este perderá interesse na leitura.

Imagine que você decidiu escrever um livro tendo como pano de fundo a II Guerra Mundial. Você já sabe que, para atrair o leitor para a sua estória, terá de escolher um personagem através da qual mostrá-la. Neste caso, você decide que a sua personagem, uma jovem polonesa, doce e meiga, irá se apaixonar por um soldado que, logo no início do romance, foi lutar contra as tropas alemãs. E, como sua estória é sobre amor, a jovem polonesa passará as duzentas folhas seguintes arrumando formas de suportar a dos da separação, até que ele regresse ao fim da guerra e eles possam viver felizes para sempre.

Olha, dá para sentir o estômago embrulhar só de imaginar escrever uma estória dessas. Tudo bem, você estaria relatando os fatos que aconteceriam uma vida pacata da jovem (longe do front de guerra), esperando o amor voltar. Esse tipo de coisa deve realmente ter acontecido durante a II Guerra Mundial. Mas quem gostaria de ler uma estória sem graça dessas? Qual a empatia que essa personagem criaria junto ao leitor?

Seria provável o leitor passar a torcer para que o vilarejo dela fosse invadido por soldados inimigos e ela fosse levada para um campo de concentração, por mais cruel que isso pudesse soar.

Espere aí.

Releia a frase sobre o que o leitor talvez passasse a desejar.

Bingo. Você entendeu.

A função do autor é a de se antecipar. É a de dar ao leitor tudo aquilo que ele pode querer.

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