Uma estória em primeira pessoa exige que o narrador seja um personagem
participante da estória, se colocando como protagonista da ação. Ele não
precisa ser o personagem principal do enredo, mas terá que ser alguém próximo
ao protagonista.
O foco dessa abordagem está na visão do narrador sobre os acontecimentos que o envolvem. Nesse caso a visão é comprometida pelas suas opiniões e julgamentos, e não permite que o
leitor tenha acesso direto aos pensamentos e sentimentos de outros personagens,
a não ser que estes tenham sido externados para o narrador.
Aparentando uma conversa informal em que alguém nos conta algo que viveu,
esse tipo de narrativa é o que mais aproxima o leitor da estória. É mais usada
quando o autor quer transmitir abertamente para o leitor os pensamentos do
personagem. Quando alguém, mesmo que fictício, compartilha conosco algo
importante de sua vida e desnuda seus pensamentos mais secretos, esse jeito de
contar a estória nos parece mais íntimo e pessoal e nos faz desejar pela
estória em companhia do personagem.
Exemplos de narrativa em primeira
pessoa:
“Lolita, luz de minha vida, labareda em
minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em
três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os
dentes. Lo.Li.Ta.
Pela manhã ela era Lô, não que que Lô,
com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete.
Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre
a linha pontilhada. Mas em meus braços era sempre Lolita.”
Lolita – Vladimir
Nabokov
“Não consigo imaginar quem poderia
vencer os nazistas. Eles são tão grandes, tão poderosos, tem tantas armas. Mas
papai diz que os ingleses, os soviéticos e os americanos são mais fortes ainda.
Então imagino esses soldados como
gigantes. Papai diz que não, que eles têm o tamanho normal, embora sejam muito
valentes.”
Estrela Amarela –
Jennifer Roy (pag. 285)
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